Cieja Parelheiros
Ciências Humanas, História.
A Revolução Industrial e os trabalhadores.
Iniciada na Inglaterra, a Revolução
Industrial dos séculos XVIII e XIX modificou radicalmente a sociedade moderna.
Ela inaugurou a indústria moderna, abriu caminho para o capitalismo industrial
e subverteu as relações sociais. No texto a seguir, o historiador inglês E. P.
Thompson analisa suas consequências para o modo de vida da classe trabalhadora
na Inglaterra.
E. P. Thompson
E. P. Thompson
Comparadas
com as vilas rurais, as condições gerais nas grandes cidades industriais eram mais repugnantes e
inconvenientes. Nas vilas rurais, a água de um poço próximo ao cemitério podia
ser impura, mas, pelo menos, seus habitantes não tinham de se levantar à noite
para entrar numa fila diante da única bica que servia a várias ruas, nem tinham
de pagar por ela, como acontecia nas cidades industriais.
Nestas,
os trabalhadores e suas famílias tinham de suportar o mau cheiro do lixo
industrial e dos esgotos a céu aberto, enquanto seus filhos brincavam entre
detritos e montes de esterco. [...]
À medida
que a Revolução Industrial avançava e surgiam as clássicas condições de
superpopulação e de depravação nas grandes cidades em rápida expansão -
inchadas pelos imigrantes -, a saúde da população urbana começou a se
deteriorar.
A taxa de
mortalidade infantil, durante as três ou quatro primeiras décadas do século XIX
foi muito mais alta nas novas cidades industriais - às vezes o dobro - do que
nas áreas rurais. Segundo o Dr. Turner Thackrah, de Leeds, "menos de 10%
dos habitantes das grandes cidades gozam de perfeitas condições de saúde".
[...]
O
Primeiro Relatório do Oficial Geral de Registros (1839) mostrou que
aproximadamente 20% da taxa global de mortalidade se deviam à tuberculose, uma
doença associada à pobreza e à superpopulação, predominando tanto nas regiões
rurais quanto nas urbanas.
Das 92
mortes de trabalhadores adultos e jovens de uma fábrica de tecidos de lã de
Leeds, entre 1818 e 1827, pelo menos 52 foram atribuídas à tuberculose ou ao
"definhamento". Nessa época, a taxa de mortalidade na faixa de O a 5
anos de idade chegava a 517 em mil nascidos vivos. [...]
O
trabalho infantil não era uma novidade. A criança era parte intrínseca da economia industrial e agrícola antes de 1780, e como
tal permaneceu até ser resgatada pela escola. A forma predominante de trabalho
infantil era a doméstica ou a praticada no seio da economia familiar. As
crianças que mal sabiam andar podiam ser incumbidas de apanhar e carregar
coisas.
Um trabalhador dessa época recordava que começou a
trabalhar "pouco depois de que iniciei a andar. [...] Minha mãe costumava
bater o algodão sobre uma peneira de arame. Colocava-o, então, num recipiente
marrom escuro, com uma espessa camada de espuma de sabão. Depois, dobrava minha
roupa até a cintura e me colocava na tina para que eu pisasse sobre o algodão
que jazia no fundo. [...] Esse processo prolongava-se até que o recipiente
ficasse cheio e se tornava perigoso continuar ali dentro, - colocavam, então,
uma cadeira ao meu lado, e eu me agarrava ao seu encosto".
O trabalho infantil estava profundamente arraigado
nas atividades têxteis, despertando, com frequência, a inveja dos trabalhadores
em ocupações onde as crianças não podiam trabalhar e aumentar o rendimento da
família [...].
Manufatureira,
de tipo industrial, era realizada em domicílio, onde toda a família trabalhava.
Em 1806, um trabalhador previa que, com o triunfo do sistema fabril "todos
os trabalhadores pobres serão arrancados de suas casas e levados para as
fábricas, e ali não contarão com a ajuda e a vantagem da presença de suas
famílias, que tinham em suas casas".
De acordo
com os padrões da época, a fábrica era uma novidade penosa e até mesmo brutal.
As atividades domésticas eram mais variadas (e a monotonia é particularmente
cruel para a criança).
Em
circunstâncias normais, o trabalho doméstico não se prolongava
ininterruptamente, seguindo um ciclo de tarefas. Podemos supor, nesse caso, que
havia uma introdução gradual ao trabalho que respeitava a capacidade e a idade
da criança, intercalando-o com a entrega de mensagens, a colheita de amoras, a
coleta de lenha e as brincadeiras. Acima de tudo, o trabalho em domicílio era
desempenhado nos limites da economia familiar, sob o cuidado dos pais. [...]
O crime
do sistema fabril consistiu em herdar as piores feições do sistema doméstico, num
contexto em que inexistiam as compensações do lar. Em casa, as condições da
criança variavam de acordo com o temperamento dos pais ou do patrão e, de certa
forma, seu trabalho era graduado de acordo com suas habilidades. Na fábrica, a
maquinaria ditava as condições, a disciplina, a velocidade e a regularidade da
jornada de trabalho, tornando-as equivalentes para o mais delicado e o mais
forte.
O dia de
uma criança trabalhadora começava às cinco e meia da manhã. Levava para a
fábrica apenas um pedaço de pão, seu único alimento até o meio-dia. O trabalho
não terminava antes das sete ou oito horas da noite. No final da jornada, elas
já estavam chorando ou adormecidas em pé, com as mãos sangrando por causa do
atrito com os fios têxteis. Seus pais davam-lhes palmadas para mantê-las
acordadas, enquanto os contramestres rondavam com correias.
Nas
fábricas rurais, dependentes da energia hidráulica, eram comuns os turnos à
noite ou as jornadas de quatorze a dezesseis horas diárias, em épocas de muito
trabalho.
Adaptado
de: THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. 3. ed. Rio de
Janeiro, 2001. v. II. p. 184-210.
Atividade no
caderno.
1.
Onde
se iniciou a Revolução Industrial?
2. Como o autor do texto descreve as
grandes cidades industriais?
3. Como é descrito o trabalho
infantil e as condições de saúde das crianças?
4.
Descreva
o trabalho de uma criança em uma fábrica.
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