quarta-feira, 22 de junho de 2011

Área de Manancias e outras questões


LISTA DE CONSTATOS DAS OFICINAS OBSERVATÓRIO DOS RECURSOS PÚBLICOS EM ÁREAS DE MANANCIAIS



Contatos institucionais:


www.vitaecivilis.org.br


www.cdhep.org.br


Contatos do grupo:


Augusto – auguribe10@uol.com.br / augusto.ribeiro@coreconsp.org.br – 3291 8728


Bárbara – babi@vitaecivilis.org.br – 3662 0158


Cesar – cesinha@vitaecivilis.org.br


Rafael – rafael@vitaecivilis.org.br - 3662 0158


Luis Galeão – luisgaleao@usp.br


Sobre o Programa Mananciais


http://www.saneamento.sp.gov.br/crbst_27.html


http://raquelrolnik.wordpress.com/2010/03/29/programa-mananciais-despeja-milhares-de-familias-sem-respeitar-seus-direitos-basicos/


Defensoria Pública - Núcleo de Habitação e urbanismos


Telefone: 3107 1564 / 3112 1278


núcleo.hu@defensoria.sp.gov.br


Promotoria de Justiça de Habitação e Urbanismo


Telefone: 3119 9118


pjhurb@mp.sp.gov.br


Promotoria Comunitária


pjcomuninataria@mp.sp.gov.br


Acompanhamento do Orçamento Público


Secretaria de Planejamento do município de São Paulo


http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/planejamento/


Secretaria de Finanças do município de São Paulo


http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/financas/contaspublicas/


Coreconsp – Conselho Regional de Economia de São Paulo


http://www.coreconsp.org.br/


Rede Nossa São Paulo


http://www.nossasaopaulo.org.br/


Sobre o Código Florestal


http://www.pactomataatlantica.org.br


http://www.sosmataatlantica.org.br


http://www.frenteambientalista.org


http://www.sosflorestas.com.br


http://www.socioambiental.org


http://www.greenpeace.org


http://www.chaua.org.br


http://www.ipam.org.br


Assine e divulgue:


http://www.avaaz.org/po/salve_codigo_florestal


http://www.causes.com/causes/569333?m=94033921


http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=PL187699


Vídeos de curta duração na internet:


22 pessoas, 2 cachorros e o clima – Mostra como o modelo de mobilidade nos grandes centros afasta as pessoas e polui - http://vimeo.com/6707628


Criança a alma do negócio – Aponta como a televisão e a propaganda estão modelando as crianças para serem consumidores compulsivos - http://www.youtube.com/watch?v=n0zK8v245oM


5 Mulheres que fazem a diferença – Mostra o contexto das mudanças climáticas em grandes cidades e apresenta 5 mulheres que estão fazendo ações sustentáveis - http://www.youtube.com/watch?v=zBnhBSfCq5Q


Sobre Rios e Córregos – Mostra a relação da cidade de São Paulo com seus rios, canalizando-os e poluindo-os - http://www.youtube.com/watch?v=wGiByaW4plU


Ilha das Flores – Mostra de maneira bem dinâmica como se dá a relação dinheiro, produção, exclusão social e degradação ambiental - http://www.youtube.com/watch?v=Zfo4Uyf5sgg&playnext=1&list=PL96450A53D799AB86


Abuela Grillo – Animação que conta a história da água na Bolívia, conflito pela privatização do recurso - http://vimeo.com/11429985


The Meatrix – Animação que faz sátira ao filme Matrix e denuncia a cadeia produtiva de carne e seus derivados - http://www.youtube.com/watch?v=suWTbn9jbKY


The Story of Stuffs – Mostra como a cadeia produtiva e a propaganda iludem o consumidor e estão destruindo os recursos -


parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=ZpkxCpxKilI


parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=ZgyNw5pIXE8&feature=related


Bee Movies – Vida de abelhas - Barry B. Benson (Jerry Seinfeld) formou-se recentemente e sonha com um emprego na Honex, onde poderá produzir mel. Desta forma ele se aventura fora da colméia, onde descobre um mundo até então inteiramente desconhecido. É quando conhece Vanessa Bloome (Renée Zellweger), uma alegre florista de Manhattan com quem quebra as regras das abelhas e passa a conversar regularmente. Logo eles se tornam amigos, o que faz com que Barry conheça melhor os humanos. Porém Barry descobre que qualquer pessoa pode comprar mel nos supermercados, o que o deixa profundamente irritado por considerar que estão roubando a produção das abelhas. É quando ele decide processar os humanos, na intenção de corrigir esta injustiça.


Era da sustentabilidade – Curadores da Terra - http://www.iteia.org.br/videos/curadores-da-terra-era-da-sustentabilidade-by-sergio-prado



Filme longa-metragem (a maioria disponível em locadoras e também possível de ser visualizado pela internet)


Home – Com imagens de todo as partes do Planeta explora as sutilezas da natureza, as obras humanas e suas consequencias - http://www.youtube.com/watch?v=jqxENMKaeCU


Surplus – Reflete sobre a sociedade de consumo e o seu poder destrutivo, tanto do meio ambiente, como das relações saudáveis, gerando por um lado aculação e riqueza e, por outro, pobreza e exclusão - http://video.google.com/videoplay?docid=-7400393743229742503#


The coorporation – Mostra como as leis permitiram o aparecimento desta forma de organização da sociedade, que hoje em dia é mais poderosa que os governos e manipula a sociedade para manter lucros - http://video.google.com/videoplay?docid=1536249927801582119#


A carne é fraca – aponta a cadeia da produção de carne no Brasil, mostrando seus impactos ambientais, econômicos, ecológicos e os riscos à saúde humana (na internet está dividido em 6 episódios - http://www.youtube.com/watch?v=IKIBmppiIvM)


O buraco branco no tempo – Filme que mostra a evolução da espécie humana, suas conquistas, descobertas e os riscos para a atualidade - http://oburacobranco.wordpress.com/2008/09/18/o-buraco-branco-no-tempo/


Zeitgeist – vídeo que analisa como as religiões, governos e o capital se combinam para manipular a sociedade - http://video.google.com/videoplay?docid=-1437724226641382024&hl=pt-BR&emb=1#


Super size me – Experiência de um jornalista que passou 1 mês comendo apenas lanches de uma cadeia de lanchonete estadunidense, suas análises sobre sua saúde, a quantidade de lixo e o valor nutricional destes lanches (trailer - http://www.youtube.com/watch?v=jBh_ioTwhJU)


Wall E – Animação que mostra o Planeta Terra destruído e a humanidade vivendo em espaçonaves.



Sítios:


Permacultura na escola – www.permaculturanaescola.wordpress.com


Morada da Floresta – www.moradadafloresta.org


Instituto Harmonia na Terra – www.harmonianaterra.org.br/


Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado – www.ecocentro.org


Instituto Nina Rosa – www.institutoninarosa.org.br


Livros:




    • De Olho na Vida – Reflexões para um consumo ético – Guilherme Blauth e Patrícia Abuhab – Instituto Harmonia na Terra
    • Vivências com a Natureza – Guia de Atividades para Pais e Educadores – Joseph Cornell – Editora Aquariana
    • Jogos Cooperativos – Se o importante é competir, o fundamental é cooperar – Fábio Otuzi Brotto – Projeto Cooperação
    • Almanaque das práticas sustentáveis – Thomas Enlazador (Organizador) – Bicho do Mato Centro Ecopedagógico (www.iteia.org.br/textos/almanaque-de-praticas-sustentaveis)
    • Cartilha de Permacultura II – Juliano Riciardi e Teresa Dominot – Coletivo de Permacultores
    • A escola sustentável – Eco-alfabetização pelo ambiente – Lucia Legan – Ecocentro IPEC
    • Criando Habitats na escola sustentável – Lucia Legan – Ecocentro IPEC
    • Ética e educação ambiental – A conexão necessária – Mauro Grün – Papirus editora
    • A casa da faxineira ecológica – Denis Beauchamp
    • Jardinagem e ervas medicinais para crianças – Ana Maria Dourado e Lucinda Vieira – Editora MECA

Sobre o Programa Mananciais

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Sobre o Programa Mananciais

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Sobre o Programa Mananciais

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terça-feira, 21 de junho de 2011

Assunto: Solicitação de melhoria em ruas deste município

Assunto: Solicitação de melhoria em ruas deste município
Serviço: Escritório político



Exmo. Sr.
Arselino Tatto
Vereador da Cidade de São Paulo




Excelentíssimo Senhor,

Investidos da condição de munícipes e de moradores no Jardim das Palmeiras e de membros participantes da Associação dos Moradores do Residencial Palmeiras, solicitamos encarecidamente a colaboração de sua equipe de assessores no sentido de vislumbrarmos a inclusão de nossas ruas no plano de obras para o ano de 2012.
Esclarecemos que ao longo dos anos resistimos a qualquer forma de pavimentação, devido a estarmos residindo em área de mananciais, no entanto nossas ruas estão sofrendo forte ação das chuvas, fato gerador de erosões, fato que, para minimizar a acessibilidade dos moradores, nos levou a jogar entulho e pedras britadas nas ruas gerando outro problema: o assoreamento da Represa do Guarapiranga, uma vez que tais resíduos são removidos após algumas chuvas.
Justificamos que é chegado o instante de termos uma solução definitiva e que esteja próximo de nossos ideais de preservação e de sustentabilidade colocando um piso ecológico, ou seja ‘bloquetes’.
Por considerarmos uma figura de distinta importância em nossa comunidade e na Cidade de São Paulo é que solicitamos seus préstimos junto à Subprefeitura de Parelheiros para que tenhamos atendidas nossas reivindicações.
Mencionamos abaixo os logradouros da presente reivindicação:
-Rua Charles Stanford;
-Rua Andrea Bernasconi;
-Rua Elias Cariel;
-Rua Batista Brevi;
-Rua Carlota Pereira de Queiroz;
-Rua Antônio Biosca;
-Rua David Nicolai;
-Rua Carlo Campbell;e
-Rua Pierre de Salles.

Na expectativa de que esta justa solicitação venha a ser examinada e atendida, firmo-me com protestos de apreço e admiração.
Atenciosamente,


Adilson Campos Calasans

sábado, 18 de junho de 2011

Cieja Parelheiros 2010- Equipe de Professores.



Praça: A Ágora grega e o Foro romano.

Praça


Em uma definição bastante ampla, praça é qualquer espaço público urbano livre de edificações e que propicie convivência e/ou recreação para seus usuários. Normalmente, a apreensão do sentido de "praça" varia de população para população, de acordo com a cultura de cada lugar. Em geral, este tipo de espaço está associado à idéia de haver prioridade ao pedestre e não acessibilidade de veículos, mas esta não é uma regra. O termo também pode, no contexto militar, se referir a uma categoria de sargentos.

No Brasil, a idéia de praça normalmente está associada à presença de ajardinamento, sendo os espaços conhecidos por largos correspondentes à idéia que se tem de praça em países como a Itália, a Espanha e Portugal. Neste sentido, um largo é considerado uma "praça seca".

Tipologias

De acordo com cada sentido que a palavra praça assume, estes espaços podem ser classificados das seguintes formas:
-Praça-jardim. Espaços nos quais a contemplação da formação vegetal e a circulação são priorizadas.
-Praça seca. Largos históricos ou espaços que suportam intensa circulação de pedestres.
-Praça azul. Praças nas quais a
água possui papel fundamental. Alguns belvederes e jardins de várzea possuem tal característica.
-Praça amarela. Praias em geral.
-Praça pode sinónimo do nível hierárquico inferior das forças militares: soldados e cabos. As outras divisões principais da hierarquia militar são os sargentos e os oficiais.

Trajetória histórica

A Ágora grega e o Foro romano

Talvez os primeiros espaços urbanos que tenham sido intencionalmente projetados para cumprirem o papel que hoje é dado às praças sejam a ágora, para os gregos, e o forum, para os romanos. Ambos os espaços possuíam, no contexto das cidades nas quais se inseriam, um aspecto simbológico bastante importante na cultura de cada um dos povos: eram a materialização de uma certa idéia de público.



A ágora grega era o espaço no qual a limitação da esfera pública urbana estava claramente decidida: aí se praticava a
democracia direta, sendo o lugar, por excelência, da discussão e do debate de idéias entre os cidadãos. A ágora normalmente se delimitava por um mercado, uma stoa e demais edifícios, sendo que dela era possível ver a acrópole, a morada dos deuses na mitologia grega. Já o fórum romano representava em si mesmo a monumentalidade do Estado, sendo que o indivíduo que por ele passasse estava espacialmente subordinado aos enormes prédios públicos que o configuravam. Diferenciava-se da ágora na medida em que o espaço de discussão não mais era a praça pública, aberta, mas o espaço fechado dos edifícios, nos quais a penetração era mais restrita.











Praças européias


A Praça do Hôtel-de-Ville, antiga Praça de Grève (Paris)
Até meados do
século XVIII o projeto de praças estava normalmente restrito ao tratamento paisagístico de grandes palácios, nem sempre inseridos no contexto urbano. Os espaços livres existentes nas cidades configuravam-se de forma não ordenada, em geral devido à existência de mercados populares ou às entradas de igrejas e catedrais. As praças que historicamente se formaram nas cidades européias normalmente estão relacionadas com a configuração natural de um espaço livre a partir dos planos de edifícios que foram sendo construídos ao redor de construções importantes, como igrejas, catedrais e prédios públicos. Há, porém, uma série de exceções notáveis a esta constatação, especialmente durante o período barroco da arte e da urbanística européia. Um momento de destaque, por exemplo, está relacionado ao período em que o papa Sixto V atuou como prefeito de Roma, no qual houve um especial cuidado com o tratamento dos espaços públicos urbanos.
Durante o
século XIX, com o trabalho de determinados profissionais (como Olmsted) e o desenho urbano promovido por urbanistas como Georges-Eugène Haussmann em Paris e Cerdá em Barcelona, o desenho específico de praças passa a constituir matéria própria, em paralelo à constituição formal da profissão de arquiteto paisagista (simultaneamente ao trabalho de Olmsted no desenho de sistemas de espaços livres em Boston e Nova Iorque).





Praças no Brasil


No Brasil, o conceito de praça é popularmente associado às idéias de verde e de ajardinamento urbano. Por este motivo, os espaços públicos similares às praças européias medievais, que normalmente se formaram a partir dos pátios das igrejas e mercados públicos, são comumente chamados de adros ou largos. Também por este motivo, uma série de jardins urbanos que surgem devido ao traçado viário das cidades (como as rotatórias e canteiros centrais de grandes avenidas) acaba recebendo o título legal de praça, ainda que sejam espaços de difícil acesso aos pedestres e efetivamente desqualificados como praças.
A não ser pelas praças em regiões centrais das grandes cidades, a típica praça na cidade brasileira se caracteriza, portanto, por ser bastante ocupada por
vegetação e arborização. Quando ela recebe um maior tratamento, ou quando foi resultado de um projeto, ela também costuma possuir equipamentos recreativos e contemplativos (como playgrounds, recantos para estar, equipamentos para ginástica e cooper, bancos e mesas, etc).

Planejamento 3ºs anos Ensino Médio

Conteúdo Programático
3ª Série do Ensino Médio
1º Bimestre

-Imperialismo: a crítica de suas
justificativas (cientificismo,
evolucionismo e racialismo)
-Conflitos entre os países imperialistas
e a I Guerra Mundial

2º Bimestre
-A Revolução Russa e o stalinismo
-Totalitarismo: os regimes nazifascistas
-A crise econômica de 1929 e seus
efeitos mundiais
-A Guerra Civil Espanhola
-II Guerra Mundial
-O período Vargas

3º Bimestre

-O mundo pós-Segunda Guerra e a
Guerra Fria
-Movimentos sociais e políticos na
América Latina e Brasil nas décadas de
1950 e 1960
-A Guerra Fria e os golpes militares no
Brasil e América Latina
-As manifestações culturais de
resistência aos governos autoritários
nas décadas de 1960 e 1970

4º Bimestre

-O papel da sociedade civil e dos
movimentos sociais na luta pela
redemocratização brasileira. O
movimento pelas “Diretas Já”
-A emergência dos movimentos
de defesa dos direitos civis no
Brasil contemporâneo, diferentes
contribuições: gênero, etnia e religiões
-O fim da Guerra Fria e a Nova Ordem
Mundial

A COOPERIFA é o Quilombo do século XXI

A COOPERIFA é o Quilombo do século XXI
Na Rua Bartolomeu Gomes, 797 na Chácara Santana Zona Sul de São Paulo, a lua brilhava no céu estrelado, era noite de jogo do campeonato paulista e o povo da periferia mais uma vez preferiu se reunir para fazer arte, recitar poesias, em mais um sarau da COOPERIFA, idealizado pelo poeta Sergio Vaz.
Há nove anos em que todas as quartas feiras ás 21h, no bar do Zé Batidão esses poetas, se reúnem, a televisão é desligada e a alienação é superada. Pelas poesias, que são recitadas pelas mais diversas pessoas: donas de casa, motoboys, ambulantes, estudantes, crianças, desempregados, rappers, homens, mulheres, novos e velhos. Sem distinção, unidos pelo sentimento de se manifestar através da poesia.
A diversidade não está somente nas pessoas que participam do sarau, mas também nos poemas: amor, sexo, exclusão social, injustiças, criticas, saudades da infância e algumas homenagens, cada um se expressa livremente. Na COOPERIFA não há palco, ninguém fica mais alto que outro, é uma forma de igualdade e o silêncio é uma prece na hora do recital, todos atentos a cada palavra pronunciada, a cada gesto. O poeta vai até o microfone e recita não só com a voz, mas com a alma, há toda uma interpretação das palavras, a emoção sempre a flor da pele, causando arrepio a quem assistir e depois a explosão de aplausos é o reconhecimento pelo talento.
A COOPERIFA já se tornou um movimento cultural da periferia, um novo quilombo, um espaço voltado para a comunidade que desperta curiosidade de quem ainda não conhece foi o que aconteceu com a Dida 36, que mora no interior de São Paulo, conheceu o sarau através de uma amiga que já participava: “Fiquei impressionada, toda a comunidade participa, surpreendente ver todas essas pessoas reunidas, em uma quarta feira a noite, fazendo poesia, isso desperta a curiosidade, a cultura periférica está se organizando despertando…”comenta Dida, com uma nítida expressão de encantamento por tudo que esta vivendo esta noite.
As transformações que a COOPERIFA vem fazendo ao longo desses nove anos de existência impressionam, o resgate da auto-estima de tantas pessoas que vivem entre becos e vielas, que encontraram no sarau uma esperança, uma mudança de vida.
Foi justamente o que aconteceu com o Jairo,40 taxista, que participa do projeto há oito anos” fui estimulado a escrever desde que conheci a COOPERIFA, tinha vontade antes mas não me achava capaz, e agora percebi que posso sim , não importar o fato de morar na periferia, e isto me despertou esta vontade de mudar, minha vida se divide entre antes e depois de conhecer a COOPERIFA, atualmente tenho um grupo de Rap Periafricania ,e trabalho como educador social na Fundação Casa, na unidade da Vila Maria,levando arte, poesia , rap e cultura para os menores…relata Jairo.
A COOPERIFA traz a comunidade para o movimento para ouvir uma poesia, assistir o cinema da laje, mas infelizmente algumas pessoas ainda estão presas a alienação, televisão mesmo morando ao lado do projeto. Boa partes das pessoas que conhecem a COOPERIFA acabam se identificando e permanecendo no projeto. No começo eram vinte pessoas, hoje são trezentas. Aqui a arte é falada, sentida. É o palco dos artistas sem palco. Isso transformou minha vida… Conclui Jairo, com um brilho no olhar de quem realmente sentiu a mudança através da cultura periférica.
A COOPERIFA vem mostrando ao longo dos anos, que militar é uma das principais formas para transformar a realidade da periferia.
A periferia não pode ficar esperando o poder publico fazer algo, o conhecimento, a informação, são elementos fundamentais nas mudanças, e já que isso muitas vezes é negado para as comunidades carentes, então somente criando movimentos alternativos é q as transformações almejadas serão alcançadas.
A COOPERIFA cria novos eventos a cada ano, como o que acontece no Dia Internacional da Mulher, é uma manifestação batizada de Ajoelhaço, os homens se ajoelham e pedem perdão para as mulheres pelas faltas cometidas ao longo da história. Em 2007 criaram o Poesia No Ar, foram trezentas bexigas com poesias dentro que foram lançadas as 23h no céu de São Paulo, uma conseqüência marcante foi a visita de uma moradora do bairro de Pinheiros que recebeu uma bexiga e foi visitar a COOPERIFA.
COOPERIFA é um movimento Antropofágico. Baseado no importante evento artístico de 1922 no Brasil .Criou-se então a Semana de Arte da Periferia ,contou com a participação de artistas de variados segmentos e foi visitada por pessoas de varias regiões de São Paulo.
Esta semana marcou a vida de muitas pessoas que nunca tinham sequer assistido uma peça de teatro, ou qualquer outro evento artístico.
A periferia esta aprendendo a produzir seu próprio conhecimento, talentos antes escondidos estão florescendo, no campo da arte de escrever
COOPERIFA é o Quilombo Vivo, é o espaço acolhedor, transformando a concepção das pessoas, e mostrando o quanto elas são capazes de produzir arte independentemente do lugar onde elas vivem. Fugir da periferia não é a solução transformá-la em um lugar melhor para se viver, é o objetivo deste movimento social periférico.
MATÉRIA, REPÓRTER DO SITE RAP NACIONAL E ESTUDANTE DE JORNALISMNO PAULA FARIAS

Beatriz Sarlo

Leia íntegra da entrevista com a socióloga Beatriz Sarlo

ADRIANA MARCOLINI
Colaboração para a Folha de S.Paulo, em Buenos Aires

O último livro da intelectual argentina Beatriz Sarlo, "La Ciudad Vista" [A Cidada Vista, Siglo Veintiuno Editores, 232 págs., 39 pesos argentinos, R$ 20; sem previsão de lançamento no Brasil], é um ensaio perspicaz sobre as mudanças ocorridas em Buenos Aires nos últimos anos e revela como a cidade foi se transformando com as sucessivas crises que assolaram o país vizinho.
Ao longo de quatro anos, Sarlo se dedicou ao ofício de escritora e jornalista, percorrendo sua cidade natal para a coluna semanal que mantinha no "Clarín".
Carregava consigo apenas uma máquina fotográfica digital e mantinha seu olhar mais do que atento.

Beatriz Sarlo/Divulgação
Fotografia de rua em Buenos Aires tirada pela socióloga argentina Beatriz Sarlo. Veja galeria

Suas andanças lhe revelaram uma nova Buenos Aires, uma cidade que mantém seus bairros de classe média arborizados, praças bem conservadas e atrações turísticas, mas onde também existem favelas, se respira pobreza e a negligência com o ambiente salta aos olhos.
As descobertas lhe renderam este livro.

Leia, a seguir, a entrevista que a ex-professora de literatura na Universidade de Buenos Aires e uma das mais prestigiadas estudiosas da obra de Jorge Luis Borges ["Jorge Luis Borges - Um Escritor Na Periferia", ed. Iluminuras, R$ 38] concedeu à Folha, na capital argentina.
Folha - Na introdução de seu livro "A Cidade Vista", a senhora conta que, para escrevê-lo, percorreu Buenos Aires durante quatro anos, tentando ver e escutar, sem usar o gravador. Por que escolheu este método?
Beatriz Sarlo - "A Cidade Vista" surgiu da necessidade de um trabalho jornalístico para a revista "Viva", que sai aos domingos no "Clarín".
Era um trabalho que tinha a ver com os temas que me preocupam, que sempre foram a literatura e a forma como a literatura se misturou com a cultura urbana (a literatura não só a representa, mas também se mesclou a ela), e a cultura urbana, tal como se manifesta no mundo contemporâneo.
Minhas ideias prévias estão muito presentes no livro: a primeira era a de que havia mudado a forma de circulação das mercadorias na cidade de Buenos Aires. Um dos elementos responsáveis foi o shopping center.
Aqui essa mudança começou a partir do início da década de 1990.
Já no Brasil teve início mais cedo, conheci shopping centers em São Paulo anteriores àqueles anos. Os shoppings haviam se tornado uma forma generalizada de circulação das mercadorias, que na outra ponta tinha os vendedores ambulantes.
Uma forma de circulação típica do Terceiro Mundo, que se encontra em toda a América Latina, mas que também existe na África --ou seja, típica das culturas dos pobres.
Essa é uma ideia forte que está desenvolvida no livro.
A segunda era a de que Buenos Aires havia se convertido em uma cidade permeada por uma enorme separação.
Tradicionalmente, sempre fora dividida entre o sul e o norte, em que o norte sempre era mais próspero e o sul, mais pobre --embora sem um abismo entre esses dois pontos cardeais.
Porém o norte se deslocou mais para o norte. Antes, a divisão de Buenos Aires passava quase pelo centro da cidade, que era a rua Rivadavia, que corta a cidade de leste a oeste.
Agora, essa divisão passa pela avenida Santa Fé, deixando dois terços da cidade na zona da pobreza, com exceção dos encraves turísticos, como San Telmo e La Boca.
O que me faltava, então, era ir a campo. Não quis levar o gravador porque em alguns lugares é mais um estorvo que um auxílio à investigação, pois há risco de idolatrar a palavra da pessoa entrevistada.
Os pobres não falam como os intelectuais, sentados diante de um jornalista que faz um artigo para um jornal. Eles falam de um modo diferente, e, portanto, às vezes as descrições etnográficas que citam textualmente os pobres são extremamente repetitivas.
Folha - Mas a máquina fotográfica não intimidava as pessoas?
Sarlo - Com exceção de alguns casos, eu não pedia permissão para fotografar, porque o fazia de muito longe, ou fotografava objetos, ou casas que não podem ser reconhecidas.
Parecia-me que andar pelas ruas que rodeiam as favelas com um caderno de anotações e uma caneta na mão era muito mais exótico do que ter uma câmera digital --só um intelectual carrega consigo um caderno de notas com uma caneta.
A câmera me distanciava menos que um caderno.
Folha - Considerando que ao escrever um livro sobre uma cidade tão grande como Buenos Aires é fácil cair na armadilha da superficialidade, gostaria de saber se a senhora se manteve atenta aos detalhes durante suas observações.
Sarlo - Minha formação original é a de crítica literária --essa é a minha formação acadêmica e continuo fazendo crítica literária. Assim sendo, existe um tipo de olhar com o foco próximo, que nós, críticos literários, aprendemos basicamente com [o semiólogo francês] Roland Barthes e [o teórico alemão] Walter Benjamin.
No meu caso, de maneira muito forte com Barthes, nas "Mitologias". Tenho como "olhar natural", digo entre aspas, e também como um tipo de olhar que busco.
"Olhar natural" porque faz parte de um treinamento, e, em uma mulher de certa idade como eu, esse treinamento já faz parte de seus automatismos, e buscado porque preciso me manter sempre a uma distância muito próxima do objeto, seja ele um texto, ou uma estrutura urbana, ou uma arquitetura.
Não sei se isso evita ou conduz à superficialidade, as outras pessoas é que devem dizê-lo. Não posso julgar meu livro neste ponto.
O que sei é que busquei um olhar extremamente detalhista e por isso também há um uso muito forte da literatura, sobretudo da literatura contemporânea, aquela que também enxerga as configurações urbanas de forma mais próxima, que tem um olhar detalhista.
Folha - De fato, a senhora cita vários trechos de Roberto Arlt e Sergio Chejfec no livro. As crônicas de Arlt sobre Buenos Aires são bastante conhecidas, mas talvez as de Chejfec nem tanto, pelo menos no Brasil. Qual seria a principal diferença entre os dois?
Sarlo - Chejfec é um escritor relativamente jovem, tem por volta de 50 anos; já Arlt, o típico escritor e jornalista, morreu em 1942. Enquanto Arlt era autodidata, Chejfec tem formação universitária, uma característica comum dos escritores argentinos atuais, que têm por volta de 50 anos.
É um autor vanguardista, de grande radicalismo. Acho que não está traduzido no Brasil [de Chejfec foi publicado, no Brasil, o romance "Boca de Lobo", ed. Amauta, R$ 29; de Arlt, foi publicado "Os Sete Loucos e os Lança-Chamas", ed. Iluminuras, R$ 71].
Folha - Ao ler suas descrições sobre as transformações de Buenos Aires, tem-se a impressão de se ler sobre a cidade de São Paulo. A proliferação de shopping centers, a perda dos espaços públicos, a disseminação do medo são um fato tanto aqui como lá. A senhora acredita que essa possa ser uma tendência das metrópoles sul-americanas?
Sarlo - Pode ser, mas, de todo modo, acredito que as duas cidades sejam incomparáveis. Buenos Aires não é uma megalópole, São Paulo sim.
Buenos Aires está circundada por 9 milhões de habitantes, mas a cidade em si tem 3 milhões, e os limites dentro dos quais essa população vive são bastante precisos.
O impacto que produz São Paulo para um portenho é realmente o de uma megalópole do futuro, tanto no seu caráter anômalo como em sua enorme vitalidade, na beleza do moderno e do hipermoderno que tem. Que pode ser um pesadelo no futuro, com uma enorme vitalidade.
Qualquer pessoa de Buenos Aires que vá pela primeira vez a São Paulo tem a sensação de que pulsa o coração de um futuro. Foi isso o que senti quando estive lá pela primeira vez, 20 anos atrás.
Buenos Aires não projeta essa imagem. Nada disso. Ela está rodeada do que, possivelmente, será o futuro de todas as cidades dos países não europeus --cinturões de pobreza, favelas, marcas do desemprego, da podridão, do desastre ecológico.
Mas a cidade em si, que tem limites muito precisos, não tem essas marcas e tampouco essa pulsação do futuro.
São Paulo, sem dúvida, tem problemas infinitamente maiores do que Buenos Aires, começando pela segurança. Há uma exaltação em torno dessa questão aqui, pois no perímetro da capital federal há muita segurança.
Excluindo os bairros do sul, que são aqueles que estudo --Villa Riachuelo, Villa Charruó--, é uma cidade bastante segura para os parâmetros latino-americanos. Já a Grande Buenos Aires pode ser comparada às demais cidades latino-americanas.
Folha - Como a senhora vê Buenos Aires dentro de 30 anos?
Sarlo - Não posso dizer, porque não sei como vejo a Argentina dentro de 30 anos. Se me perguntassem isso com relação ao Brasil, creio que poderia responder de maneira mais fácil.
Folha - E como a senhora vê o Brasil dentro de 30 anos?
Sarlo - Vendo as coisas de fora, a ideia que se tem é a de que o país será uma potência, ao lado de Índia e China. Que catástrofe precisaria acontecer para que o Brasil não seja uma potência? Não vejo catástrofe nenhuma no horizonte brasileiro.
Com relação à Argentina, não sei se continuará a ser um país em decadência ou se conseguirá superá-la e encontrar uma certa estratégia de estabilidade como país pequeno, produzindo alguns bens importantes e dividindo a riqueza produzida.
Folha - O futuro de São Paulo estaria ligado, naturalmente, ao futuro do Brasil, certo?
Sarlo - Sim, do ponto de vista cultural, pois minha perspectiva em relação às cidades é cultural.
Vejo esse caráter pulsante próprio de São Paulo projetando-se no futuro.
Folha - Em seu livro, a senhora também cita as favelas, além das crianças e famílias que vivem nas ruas da cidade. Diz que essa realidade está ligada à pobreza urbana da América Latina, com a qual a capital argentina não se relacionava antes, pois nem a imaginação e nem o senso comum a concebiam como cidade americana. Como os argentinos encaram hoje essa nova realidade?
Sarlo - Primeiro, gostaria de explicar a frase que escrevi.
Digamos que, ao menos até os anos 1960, o emprego, a defesa dos direitos sociais dos trabalhadores e a educação básica eram três questões que a Argentina parecia ter solucionado --com exceção de alguns bolsões de miséria que existiam em algumas Províncias do norte. Isso não acontecia no resto da América Latina e diferenciava o país em relação ao continente.
Acredito que somente nos últimos 20 anos os argentinos começaram a se dar conta de que há pelo menos dois países mais importantes que o nosso no continente: o México e o Brasil.
Quando o ex-presidente José Sarney viajou para a Argentina, em 1985, e assinou os protocolos do Mercosul [Ata de Iguaçu] com o então presidente Raúl Alfonsín, os argentinos ainda pensavam que se estava firmando um pacto entre duas nações equivalentes.
Isso mudou, e mudou muito antes que o notássemos. Ou seja, as mudanças materiais aconteceram em uma temporalidade acelerada. Já a assimilação cultural, a assimilação dessas mudanças no imaginário, a conversão dessas mudanças no senso comum, aconteceram em uma temporalidade mais lenta.
A Argentina precisou passar por várias crises, e creio que na última, de 2001, realmente se deu conta de que não era o país próspero, ou relativamente próspero, que acreditava ser. Foi quando viu, literalmente, exércitos de centenas de pobres nas ruas recolhendo lixo.
Pessoalmente, quero que isso não seja esquecido, que o hábito e o dia a dia não nos apaguem essas centenas ou milhares de pobres que estão hoje nas ruas de Buenos Aires, de Rosario, de Mendoza ou de Córdoba, recolhendo lixo.
Por isso tenho um olhar talvez um pouco obsessivo sobre esses setores. Procuro ver quem está dormindo na rua, onde estão suas roupas, quem está alimentando o filho de um ano de uma moradora de rua, que possivelmente não recebeu nenhuma vacina e não tem assistência médica.
Porque podemos chegar a nos acostumar com isso, sem dúvida, sobretudo quando a classe média já percebeu que não irá cair de patamar.
Houve um momento, em 2001, em que alguns setores da classe média pensaram que iriam decair, e então enxergaram à sua volta, porque pensaram que seu futuro poderia estar na pobreza.
Mas, quando passaram a entender que não cairiam, o olhar se acostumou.
Por outro lado, seja acostumando ou não, essas pessoas estão aí. Esta é a nossa realidade, mesmo em países que podem ser grandes potências, como é o caso de México e Brasil.
Pode haver pobres nas ruas em outros lugares do mundo, mas crianças não --só na África, na América Latina e em algumas regiões da Ásia.
Folha - A frase "Buenos Aires, a Paris da América do Sul" é verdadeira ou foi um lema criado para conferir à cidade uma identidade?
Sarlo - Em princípio, Buenos Aires não se parece com Paris.
É uma mistura de cidades, teve muitos modelos, entre eles Paris, mas também Barcelona e Nova York.
Hoje é globalizada, pode estar olhando para qualquer cidade globalizada, para São Paulo ou para qualquer outra onde estejam sendo construídos os arranha-céus mais altos do mundo.
Buenos Aires sempre foi uma mescla; a avenida de Mayo, por exemplo, é marcada por uma presença arquitetônica eclética. Os portenhos são responsáveis por muitas coisas, mas creio que os latino-americanos também sejam responsáveis pelo lema de "Buenos Aires, a Paris da América do Sul".
É preciso se reportar aos poetas modernistas, a Ruben Darío, aos poetas que vinham da América Central e chegavam a Buenos Aires no final do século 19. Eram de cidades [e países] muito pequenos --Darío era nicaraguense, por exemplo.
Quando queriam fazer uma comparação, o faziam com um nome, não com uma cidade realmente existente --e diziam Paris. Mas não é uma comparação na qual o realmente existente deveria se parecer com o comparado. Simplesmente citavam o nome de uma cidade que, no final do século 19, era a metrópole.
Como se eu, digamos, olhasse para São Paulo e dissesse: isto é uma mescla de arranha-céus que me lembra Nova York, mas não é Nova York, não se parece com Nova York.
Ou seja, coloco um nome, e este nome, no caso de Paris, não o colocaram apenas os portenhos, mas foi algo também criado pelo turismo latino-americano.
No caso do Brasil, o turismo para Buenos Aires era de elite e assíduo. Não havia o turismo de massa de hoje. Então, foi o turismo que foi moldando essa imagem. E, naturalmente, quem conhece Paris, sabe que não se parece com a capital argentina.
Folha - O surgimento das favelas em Buenos Aires era previsível? Seu crescimento pode ser contido?
Sarlo - Assim como os bairros onde os pobres viviam em condições precárias, as favelas começaram a nascer na década de 1940, quando se produziram grandes migrações internas pela necessidade de mão de obra das indústrias que se concentravam nos arredores da cidade.
As favelas cresceram, mas na época eram mais parecidas com um bairro de trabalhadores.
Nos anos 1960, havia muitas favelas dentro e fora da cidade de Buenos Aires; a ditadura as arrancou do perímetro da cidade, mas hoje estão de volta.
Atualmente, há favelas imensas. Antes, as pessoas que viviam nas favelas tinham trabalho. Havia muitos operários da construção civil, imigrantes do Paraguai --em suma, pessoas que tinham um salário.
Podia haver, eventualmente, um ou outro desempregado, mas o problema do desemprego não existia ainda.
Hoje, vivem nas favelas basicamente os desempregados, famílias desestruturadas, com uma forte presença de criminalidade e drogas.
Nos anos 1960, os partidos políticos de esquerda e o peronismo tinham filiais dentro das favelas. Os moradores podiam pelo menos imaginar a ascensão social. Compravam um terreno mais distante na Grande Buenos Aires, sonhavam em construir uma casa por conta própria.
Com relação à contenção do crescimento, se trata de uma resposta política, que não sei responder. Nenhum partido político está tratando seriamente dessa questão, porque os pobres e os desempregados das favelas, pelo menos os que são cidadãos argentinos, são massa de manobra dos partidos políticos --fundamentalmente do Partido Justicialista [partido do atual governo argentino].
Ou seja, esse partido está entre uma ideologia histórica de tirar essas pessoas da favela e, por outro lado, o sentimento de que os favelados são como uma clientela de seus chefes políticos.
Por outro lado, o fenômeno tem crescido tanto que deveria ser considerado um problema nacional.
Se as favelas não forem consideradas um problema federal, não haverá solução. Mas isso tem de ser feito com a anuência das Províncias.
Folha - O governo do Estado do Rio de Janeiro irá construir muros em torno de 13 favelas. A justificativa é a de que irão proteger os habitantes e contribuir para que recebam os serviços públicos, como saneamento e educação, além de impedir o avanço das favelas para dentro da floresta. O que pensa a respeito?
Sarlo - Não posso emitir uma opinião, porque para opinar precisaria conhecer a fundo o que está acontecendo no Rio. Vou dar o exemplo do que houve aqui. Um prefeito de San Isidro, na Grande Buenos Aires, quis construir um muro, de aproximadamente dez quadras, para separar um bairro rico de um pobre, no limite entre San Isidro e San Fernando.
Para poder dar minha opinião sobre o que estava acontecendo, passei 24 horas no local, acompanhada de um fotógrafo de um jornal, para ver de perto e conversar com as pessoas.
Folha - Então gostaria de saber sua opinião sobre o que aconteceu aqui.
Sarlo - Para dizer de uma forma simples, aqui houve uma espécie de ataque de loucura de um prefeito, não pode ser explicado de outra maneira.
Ninguém concordava com esse muro, nem os ricos que estavam de um lado, nem os pobres que estavam de outro. Os ricos, porque esse muro colocava em evidência a discriminação da qual eles se viam beneficiados --e, todavia, vivemos em um país com certo imaginário democrático.
Principalmente quando alguém precisa sair de manhã e atravessar o portão do muro com o carro importado.
Conversei com os ricos, e eles me disseram que tinham o direito de erguer muros de seis metros de altura na própria casa --de fato, elas são cheias de muros e cercas eletrificadas. Mas essas mesmas pessoas também me disseram que isso não podia ser feito no espaço público.
Aí está o imaginário democrático que a Argentina tem. Até os muito ricos não querem ser perseguidos pela culpa, digamos, de que estão se beneficiando de uma espécie de discriminação bestial e patente.
Por outro lado, é lógico que os pobres se sentiam ofendidos, pois o muro nem sequer separava uma favela, mas um bairro pobre.
Um pouco mais adiante desse bairro há várias favelas, e se dizia que os delinquentes podiam vir de lá. Depois de passar muitas horas no local, encontrei apenas uma pessoa favorável à construção do muro.
Folha - Uma boa parte de seu livro é dedicada aos atuais imigrantes em Buenos Aires, aos latino-americanos e aos asiáticos. Qual seria a maior diferença entre as ondas imigratórias de hoje e as do passado?
Sarlo - Em comparação com os fluxos imigratórios do passado, os atuais são muito pequenos. Nas primeiras duas décadas do século 20, em Buenos Aires e em Rosario havia mais estrangeiros que nativos, e, naturalmente, um percentual muito mais elevado de filhos de estrangeiros do que de argentinos.
Eram ondas imigratórias realmente gigantescas, só comparáveis, em toda a América, às dos EUA. Eram gigantescas, porque a Argentina era um país muito despovoado, em que não houve escravidão, como no caso do Brasil. Ou seja, a mão de obra era escassa.
Havia agentes de imigração na Europa que mentiam para os imigrantes em potencial, dizendo-lhes que aqui receberiam terra e máquinas agrícolas, o que não era verdade.
Mas eram salários relativamente altos para a época, e a comida era muito barata. Portanto, não é possível comparar com o que acontece atualmente, embora haja uma corrente imigratória muito forte dos países limítrofes, especialmente da Bolívia e do Paraguai. Já houve também do Uruguai, mas não hoje.
De toda maneira, a marca dessa imigração pobre é forte, e agora se reforçou com a chegada dos peruanos.
Os chineses e coreanos são completamente diferentes, são comunidades muito pequenas --os coreanos não devem ser mais do que 13 mil-- que vêm com pequenos capitais.
Concentram-se em Buenos Aires, em bairros que, eu diria, quase têm o aspecto de gueto, que não se mesclam.
Os coreanos não se misturam mesmo; já os chineses estão mais mesclados e também vêm com pequenos capitais. Em geral seus filhos frequentam bons colégios, pois a educação é muito importante para eles.
Interessou-me muito percorrer o bairro coreano, escutar o idioma e tentar imaginar como deveria ter sido Buenos Aires quando nesta cidade se escutava russo, iídiche, italiano e várias outras línguas, na época em que chegaram meus avós, que eram da Espanha e da Itália.
Queria sentir como deve ter sido esta cidade tão poliglota entre o final do século 19 e o começo do 20.
O bairro coreano me pareceu ser o mais homogêneo do ponto de vista cultural e linguístico. As igrejas têm serviços em coreano, as placas do bairro são apenas neste idioma, os restaurantes só servem comida coreana.
Folha - A senhora conseguiu realmente sentir como era esta cidade poliglota?
Sarlo - A única coisa que eu acreditava que poderia se reproduzir era a sensação de um radical estrangeirismo linguístico. Isto é realmente muito interessante, porque nem sempre se tem essa sensação.
Quando uma pessoa viaja como turista a um país cuja língua desconhece, está na condição de turista, flutuando em um "nowhere".
Pode estar, por exemplo, na praça Vermelha de Moscou [na Rússia], e essa praça acaba sendo um não lugar --melhor dizendo, é como um cenário.
Mas, quando alguém está em sua própria cidade, sentir o estrangeirismo linguístico é muito forte. Por isso, parti de um texto de Roberto Arlt, que teve essa sensação no bairro do Once, habitado por muitos judeus em Buenos Aires.
Fui testar como essa sensação de estrangeirismo poderia se reconstruir --e que os coreanos também devem ter. E me deparei com algo que não sabia que ia encontrar: a separação absoluta entre o bairro coreano e o boliviano. Vivem tão próximos um do outro, mas completamente separados. São como dois países.
Folha - Como a classe média urbana reagiu à chegada desses novos imigrantes? Há discriminação?
Sarlo - Os paraguaios e os bolivianos são discriminados, são todos inseridos em um continente de discriminação latino-americana. São discriminados nas danceterias, ou, se a polícia está à procura de alguém, inicialmente vai atrás de uma pessoa com aspecto de imigrante latino-americano, que também pode ser um argentino do norte. Não é uma discriminação extremamente forte, porque Buenos Aires recebe imigrantes da América Latina e cidadãos do norte do país desde os anos 1940.
Ao mesmo tempo, observo no bairro Charrúa, onde moram os bolivianos e seus descendentes, que eles são uma comunidade fortemente integrada que goza do respeito das demais. É uma zona de cultura boliviana, onde estão presentes as famílias que trabalham juntas. Certamente, também há exploração e há crianças que trabalham desde cedo.
Folha - Por que muitas pessoas na Argentina afirmam que, durante a ditadura (1976-83), tinham menos medo do que hoje?
Sarlo - Porque a ordem do regime militar era a de um regime totalitário. Havia, sem dúvida, dois fatores que se diferenciavam da paisagem social de hoje.
Por um lado, não havia a penetração das drogas e de gangues juvenis drogadas; por outro, não se podia andar pelas ruas tranquilamente à meia-noite.
Naturalmente, os militantes políticos e seus familiares tinham medo, mas depois que os militares e o terrorismo de Estado se ocuparam dos guerrilheiros e de todos os que eram de esquerda, passaram a impor a disciplina para o resto da sociedade.
Não havia toque de recolher, mas não se andava pelas ruas com liberdade, corria-se o risco de ser parado, interrogado, molestado. Naquela época, a polícia tinha direito de pedir documento, hoje não.
A cidade estava sob um regime inicialmente implantado pelo terror e depois pela ordem totalitária.
Folha - A mídia está difundindo o medo da insegurança entre a população argentina?
Sarlo - Sim, a mídia está trabalhando muito mal e está criando ondas de psicose na população. Em princípio, o trabalho da imprensa argentina é ruim, porque não faz o exercício da comparação.
Esse tipo de exercício é feito quando se diz, por exemplo, que nas pesquisas sobre educação, a Finlândia está em primeiro lugar porque as crianças têm o melhor desempenho escolar, e a Argentina ocupa o 140º.
Mas isso não acontece com relação aos dados sobre a segurança, o que contribuiria para esclarecer o problema, inclusive para ter um diagnóstico mais claro.
Ocultar os dados comparativos ou se indignar quando o ministro do Interior Aníbal Fernández afirma que em Buenos Aires acontecem menos assassinatos por ano do que em quatro meses em Caracas [capital da Venezuela] me parece um erro. Fernández é ministro de um governo que absolutamente não tem apoio, mas tem razão.
A imprensa não transmite dados comparativos, principalmente a televisão, que é uma máquina irreflexiva.
E as pessoas não comparam suas experiências com as informações que recebem da imprensa --ou seja, vão passar as férias de verão tranquilas no Rio de Janeiro, apesar de ser uma cidade mais perigosa do que Buenos Aires.
Porque a imprensa tem esta máquina do medo, que tem um poder muito forte de convicção. O medo é uma das zonas obscuras do imaginário coletivo. A imprensa também não separa a ocorrência de delitos por zonas, ajudando as pessoas que vivem nas áreas realmente atingidas a tomarem conhecimento do que ocorre.
E também não compara a violência gerada pelo delito com aquela provocada pelas mortes nas estradas, cujo índice anual é quatro vezes maior.
Por que não se incorporam essas mortes?
Aí começa de novo a discriminação: é porque os moradores das favelas não circulam em carros que vão a 200 km por hora, ou fazem "rachas" em carros possantes. O delito é colocado na zona obscura da sociedade, na zona em que se pode atribuí-lo àquele que é discriminado.
A imprensa também precisaria dar atenção à violência nas estradas. Sem mencionar a doméstica; na Argentina morrem cerca de 200 mulheres por ano vítimas desse tipo de violência, além das que não sobrevivem aos abortos clandestinos.
Por outro lado, em Buenos Aires muitos delinquentes são mortos. Os policiais são assassinados, mas também morrem muitos delinquentes.
Isso também é um tipo de violência provocada por uma força policial que não está bem treinada para reprimir o delito e dar segurança com as garantias constitucionais.
Folha - Como se explica a grande comoção e a mobilização popular que aconteceram com a morte de Raúl Alfonsín [em março]?
Sarlo - Há uma explicação ligada à situação política da Argentina e outra que está relacionada com os passos que Alfonsín deu nos meses anteriores à sua morte.
Uma estratégia política de Alfonsín culminou, ou começou a dar resultado, no momento em que ele estava morrendo. Havia um documento importante que ele estava elaborando, muitas reuniões com políticos da oposição, mas sem fazer dessas reuniões a construção de uma oposição, porque ele estava se despedindo da vida, mas uma tentativa de se chegar a um diálogo político, para que, pela primeira vez em seis anos, houvesse esse diálogo político.
Porque na Argentina dos Kirchner [Néstor e sua mulher Cristina, que é a presidente do país], o governo e a oposição não se sentam para conversar.
É preciso dizer que Alfonsín sempre foi um político adepto do diálogo, inclusive seus grandes erros, como o pacto com [Carlos] Menen, têm a ver com esta vocação.
Creio que, embora as pessoas estejam meio distantes da política, mesmo assim escutaram o chamado de Alfonsín. Esta é a explicação de prazo mais curto.
A outra, mais ampla, é que ele morreu quando já há um cansaço, na classe média, do estilo autoritário dos Kirchner.
E elas [as pessoas] nos recordam que Alfonsín foi um político democrático. O nome dele é uma referência democrática [Alfonsín foi o primeiro presidente eleito após a ditadura vigente na Argentina de 1976 a 1983]. Havia muitos jovens de menos de 20 anos nas fileiras do funeral, eram pessoas que não conheceram sua Presidência [1983-89].
Eu estava lá e perguntei por que estavam ali. Eles respondiam: "Eu o conhecia de nome, me disseram em casa que era um político democrático".
Folha - Quais são as principais diferenças entre Néstor Kirchner e Raúl Alfonsín?
Sarlo - Aí é preciso pensar nas diferenças de estruturas políticas, não de pessoas.
Diria que Alfonsín tinha uma cultura política e um estilo que provinha do Partido Radical, um partido de tradição republicana, forjado na luta pela democratização do voto no início do século 20.
Tinha uma ideologia subjetivamente social-democrata, o que não quer dizer que tenha governado com ela. Alfonsín escalou todos os degraus da hierarquia de seu partido, fez uma carreira.
Nesse sentido, o Partido Radical é bastante fechado, não se pode entrar facilmente pelas bordas.
Kirchner, por outro lado, vem da Província de Santa Cruz [no sul do país], que é muito pequena e tem apenas 200 mil habitantes.
Essa era sua experiência política, foi governador de uma Província com uma renda elevada, em razão da exploração petrolífera. Essas Províncias são governadas com mão de ferro, e se diz que Kirchner nunca dialogou com ninguém em Santa Cruz.
E o partido dele, o Justicialista, é mais um movimento que tem um pouco de tudo, no qual a esquerda e a direita convivem e atravessam de calçada continuamente. Não é nem sequer uma cultura partidária, mas de um movimento. É completamente diferente.
Folha - No Brasil, considera-se o argentino mais politizado que o brasileiro. Apesar disso, as pesquisas apontam que há um desinteresse generalizado em relação às eleições legislativas que ocorrerão aqui no final de junho. Como a sra. explica isso?
Sarlo - O desinteresse pela política é uma marca das sociedades ocidentais hoje em dia.
As pessoas também se desinteressam pela política nos países europeus. Lembremos que quando Jacques Chirac venceu as eleições presidenciais [de 2002] na França, houve uma abstenção no primeiro turno que quase levou [Jean-Marie] Le Pen a ser eleito.
Esse é um problema do Ocidente: há um interesse pelo mais próximo, pelo mais cultural, e a política parece lenta, institucional.
Na Europa, menos de 30% dos eleitores aptos costumam votar nas eleições para o Parlamento europeu.
Portanto, essa não é uma peste só dos latino-americanos. Mas quando e onde não ocorre esse desinteresse? Quando há políticos que unam algo fortemente carismático com programas claros, não simplesmente com slogans.
Em minha opinião, esse foi o caso de Lula e Obama. Quando Obama começou a campanha presidencial, imaginei que queria ficar mais conhecido e se preparar para uma futura candidatura à Presidência.
Porém, efetivamente, ele uniu não apenas ideias --porque é preciso ter ideias--, mas também foi carismático. Sem o carisma não se quebra essa camada de gelo e o desinteresse pela política.
Folha - Para concluir, como pensa que o escritor Jorge Luis Borges reagiria se pudesse voltar a Buenos Aires hoje?
Sarlo - Borges morreu na Suíça [em 1986] e foi enterrado em Genebra por sua própria escolha. Em minha opinião, havia alguma coisa na Argentina da qual ele queria fugir, queria tirar seu corpo, sua morte, de uma espécie de Carnaval nacionalista, em que ele seria uma espécie de fetiche da literatura argentina --inclusive por parte de pessoas que não o leram.
Borges tinha uma percepção do mundo --pode-se dizer-- elitista, mas tinha algo que valorizo muito: era um espírito não nacionalista e liberal.
Escreveu um conto extraordinário, "O Simulacro" [em "O Fazedor", Cia. das Letras], que é imaginário, mas se baseia no que aconteceu no velório de Eva Perón [mulher do presidente argentino Juan Domingo Perón]. Foi um velório de Estado, como se fosse o de um rei, e o país inteiro parou durante 15, 20 dias.
Nesse conto, um homem anda pelas Províncias carregando uma caixa de sapatos com uma boneca loira dentro. Ele a abre nas cidadezinhas e finge uma espécie de velório de Evita, exibindo a boneca em cima de uma mesa.
Aqui Borges põe em evidência o lado sinistro do que acontece com a morte na Argentina, onde parece que vivemos discutindo o destino dos restos mortais de muitas pessoas que foram importantes na história do país.
Pense no que aconteceu com o corpo de Eva Perón [que morreu em 1952], que ficou em exibição na Confederação Geral do Trabalho (CGT) até 1955 e, depois, foi sequestrado e levado para a Europa pela revolução que derrubou Perón.
San Martín [1778-1850], o herói máximo da independência argentina, morreu em uma espécie de exílio na França, e passaram-se décadas até que seus restos mortais fossem trazidos para a Argentina.
Seu traslado foi uma grande operação patriótica.

Um talento que veio do lixo

Um talento que veio do lixo
29 de novembro de 2010
Categoria: Sem categoria

Alessandro Lucchetti

Um forte cutucão da mulher fez Solonei Rocha da Silva acordar assustado no dia da Corrida de Pedestres de São Francisco de Assis, evento já tradicional de Penápolis. Ela havia acabado de ver em sonho que ele chegaria em terceiro entre os corredores da cidade, o que renderia um prêmio de R$ 100. Na véspera, a mulher não o levou a sério quando ouviu que ele pensava em correr e ainda lhe deu bronca. “Você está é maluco. Só joga bola, como é que vai chegar na frente do pessoal que treina pra isso?”.
O peladeiro acreditou no sonho, vestiu às pressas o calção que usava para jogar bola e um tênis de passeio. Até então, sua única experiência em provas de rua havia sido na primeira corrida Yasunaga, uma volta de 3,3 km em torno do curtume onde trabalhava. Como correu com chuteiras, no dia seguinte sentia tantas dores nas pernas que não conseguia trabalhar.
Solonei cobiçava o prêmio oferecido ao terceiro melhor penapolense. Havia decidido sair da casa da mãe para morar com a mulher numa casa alugada e precisava de R$ 80 para comprar talheres. Mesmo parando uma vez para fazer um inadiável xixi, o objetivo, o degrau mais baixo do pódio dos locais, foi atingido. Depois de superar as dores no baço que acometem corredores inexperientes, embalou e tentou buscar o mais rápido da cidade, Adejamir, o Mica. Não foi possível, mas aquele pódio foi o início de uma boa carreira.
Sem condições de parar de trabalhar para correr, Solonei prestou um concurso para trabalhar na coleta de lixo de Penápolis. Foi aprovado e passou a usar as corridas atrás do caminhão e as fugas dos cachorros como treinamento. Deu certo. No ano passado, fez um teste em Bragança Paulista para integrar a equipe do Pinheiros. Foi aprovado, mas como não conseguiu uma licença não remunerada para preservar a vaga conquistada em concurso, adiou o projeto por um ano. De tanto tentar, acabou conseguindo o apoio do prefeito da cidade. Com a garantia de que teria seu emprego de volta caso a carreira não desse certo, mudou-se para Bragança.
Em novembro do ano passado, chegou a ter dúvidas de seu talento ao correr os 10 km da Prova da Assembleia Legislativa de São Paulo em 30min47, o que lhe valeu o sexto lugar. No mesmo mês, o quinto lugar na Corrida Pan-Americana, no Rio, com 30min20, deu a ele a indicação de que estava no caminho certo. Ficou atrás apenas de um brasileiro e de três quenianos.
Sem mordida
Em abril deste ano, o tempo obtido na vitoriosa participação na Maratona de Porto Alegre (2h15min45) o colocou na segunda colocação do ranking brasileiro da prova, atrás apenas de Marílson Gomes do Santos, que tem no currículo duas vitórias na Maratona de Nova York. Uma lesão, no entanto, o impediu de correr os 42,195 km de Amsterdã. Para piorar, Jean Carlos da Silva correu na Holanda em 2h15min24 e o jogou para a terceira colocação entre os brasileiros. Mas nada que desanime um corredor que nunca foi pego por cachorro algum.
Ele deixou um grupo de fiéis torcedores em Penápolis, os companheiros do caminhão de lixo, que sempre lhe telefonam para dar força. “Acham que a gente não é feliz como coletor, mas nossa autoestima é muito grande. Damos muita risada debaixo de sol e de chuva, o que nos une bastante.”