domingo, 21 de setembro de 2014

Religião egípcia

Religião egípcia: ritual sagrado revivia os mortos
Manter viva a lembrança do falecido garantia o direito a uma nova existência no além. Mas antes ele era julgado pelo deus Osíris. Se fosse reprovado...
01/06/2007 00h00
O culto funerário era fundamental dentro das crenças egípcias. A morte era uma etapa que conduzia a uma forma melhor de vida. Isso não significa que eles não curtissem viver. “Gostavam tanto do lugar onde moravam que, para eles, o paraíso era uma reprodução aperfeiçoada do rio Nilo e do Egito, com abundância de frutas e outros alimentos”, diz o egiptólogo Antônio Brancaglion Júnior.
Eles temiam mesmo o que chamavam de segunda morte, a definitiva, que era o esquecimento completo do morto por seus parentes vivos. O destino da segunda vida do sepultado estava nas mãos dos familiares, que deviam renovar periodicamente as bebidas e os alimentos na tumba. O responsável pela tarefa era o filho mais velho.
A maioria preparava em vida a própria sepultura – como as três pirâmides de Gizé. As paredes traziam inscrições e pinturas, principalmente nas tumbas de famílias reinantes ou aristocratas. “Eles acreditavam que os desenhos criariam vida e lhes trariam o sustento na outra existência”, diz Brancaglion.
SEM CÉREBRO
Como iriam viver de novo, precisavam de seus corpos no melhor estado possível. É aí que entram os mumificadores. Eles levavam o corpo para a tenda de purificação e aplicavam uma solução de natrão, um tipo de sal que resseca a pele. O cérebro era removido pelas narinas com um gancho de ferro e as vísceras eram retiradas, com exceção do coração e dos rins. Os órgãos eram depositados nos canopos, vasos decorados com a cabeça dos quatro filhos do deus Hórus, e depois colocados no sarcófago. As cavidades eram preenchidas com resina e substâncias aromáticas. As bandagens eram feitas com linho. O processo todo levava cerca de 70 dias.
JULGAMENTO CRUEL
Dentro do sarcófago ia o Livro dos Mortos, com encantamentos mágicos que deveriam ser recitados pelo defunto. Ele ressuscitaria do outro lado graças a um ritual chamado “abertura da boca”. O sacerdote ou um parente tocava a boca do morto com um instrumento de metal para que ele pudesse dizer as palavras necessárias na hora do julgamento.
Esse julgamento era feito por Osíris e seus 42 assessores. Diante de cada juiz, o defunto declarava não ter cometido determinada infração. Seu coração era então pesado numa balança. “Se pesasse mais que a pluma da justiça de Maat, a deusa da ordem universal, o morto seria engolido por um monstro em forma de crocodilo, leão e hipopótamo e teria, assim, uma morte definitiva”, diz o historiador Ciro Flamarion Cardoso, da Universidade Federal Fluminense. Não existiam livros sagrados; as crenças eram passadas oralmente de pai para filho.
NO INÍCIO ERA O MAR
No começo havia o oceano primordial, de onde surgiu Rá, que expeliu de sua boca Seb (o deus Ar) e Tefnut (Umidade). Deles nasceram Geb (Terra) e Nut (Céu), pais de Osíris, Ísis, Seth e Néfits. Depois deles vieram todas as outras divindades, que somam mais de 2 mil.
Os egípcios começaram a adorar seus deuses antes das dinastias e dos faraós, principalmente sob a forma de animais (leão, chacal, falcão, crocodilo, vaca, carneiro e gato). Com o tempo, as divindades passaram a ser representadas também nas formas humana e híbrida (corpo humano e cabeça de animal).
NUA COM O TOURO
Não havia rituais para casamentos e nascimentos. A população praticava magias, desde a alta sociedade até o proletariado. As mulheres que queriam ter filhos costumavam ficar nuas diante de touros sagrados, tidos como símbolos de fertilidade.

Deuses a granel
Os egípcios cultuavam mais de 2 mil divindades, mas uma de cada vez
Hórus
Deus do céu e da ordem, filho de Osíris e Ísis. Tem como símbolo o falcão, já que a ave é capaz de voar muito alto, em direção ao Sol
Hathor
Filha de Rá, deusa-mãe protetora das mulheres, do céu e das árvores. Representa a música, o perfume, a embriaguez e a fertilidade
Anúbis
Deus-chacal, guardião dos mortos e patrono dos embalsamadores. É o guia dos humanos para o mundo dos mortos
Amon
Senhor do ar e dos ventos e patrono dos navegantes. Representa o sopro que vivifica o universo. Tornou-se o deus principal com a reunificação do Egito
Osíris
Soberano do mundo dos mortos e da ressurreição, é um dos deuses mais populares do Egito antigo. Entende a língua de todos os homens
Deus-sol, identificado por um disco solar na cabeça de falcão. É o Pai, o criador dos homens e da vida na Terra e no céu
Ísis
Deusa da criação e restauradora dos mortos. É esposa fiel de Osíris, guardiã e mágica. Mais tarde, torna-se importante também em Roma
Seth
Deus da desordem, dos desertos, das tempestades e da guerra. Representado por um animal não identificado ou por um homem com cabeça de bicho

Para saber mais
• As Religiões no Egito Antigo – Deuses, Mitos e Rituais Domésticos, Byron E. Shafer (org), Nova Alexandria, 2002
• Deuses, Múmias e Ziggurats – Uma Comparação das Religiões Antigas do Egito e da Mesopotâmia, Ciro Flamarion Cardoso, Edipuc-RS, 1999
• Deuses, Faraós e o Poder, Júlio Gralha, Barroso Produções Editoriais, 2002

Show de decoração
Cada detalhe tinha um significado e tudo seria útil depois que a múmia ressuscitasse
RETRATOS DA VIDA
As famílias mais ricas contratavam artesãos para decorar as paredes da tumba com cenas da vida cotidiana. Os sarcófagos traziam trechos do Livro dos Mortos ou relatos sobre a vida do falecido
SOB MEDIDA
As múmias eram postas em esquifes feitos sob medida. Embalsamar o corpo tinha a função de conservá-lo para que o morto se reconhecesse quando despertasse na outra vida. As vísceras ficavam em vasos. Junto com a múmia, iam os shabits, bonecos talhados em madeira ou pedra que seriam servos do morto no céu. Podiam ter a aparência do falecido



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