domingo, 21 de setembro de 2014

Industrialização em São Paulo.

Abrindo os trilhos para a locomotiva
A capital perdeu espaço e hoje seu forte está no setor de serviços mas, ainda assim, responde por 9,4% da produção industrial do país. Uma locomotiva de respeito.
Em 1890, com população em torno de 70 mil habitantes, São Paulo já era vista como uma cidade onde tudo acontecia e para onde rumavam os “business man” e os turistas, como constatou o filho do então cônsul da Suíça na capital, Henrique Raffard. Foi justamente nesta época que São Paulo despertava para sua vocação de grande centro industrial. O início do processo de industrialização deve-se ao café e aos investimentos em infra-estrutura gerados pela procura do mercado externo pelo produto. 
A industrialização começou da forma mais simples possível, com a fabricação de produtos de baixo valor e pouco elaborados, usando matérias-primas nacionais como o próprio café, o algodão, o couro e o açúcar. Foi no início do século XX que um dos grandes industriais paulistas começou a construir seu império: Francisco Matarazzo. Apenas 9 anos após chegar ao Brasil vendendo banha importada, o italiano da Calábria construiu um moinho para produzir farinha de trigo, fundamental na preparação dos principais pratos da sua terra natal. 
Em poucos anos os Matarazzo ergueram o maior complexo industrial da América Latina. As fábricas visavam a autossuficiência dos negócios, ou seja, a não-dependência das importações. E assim as indústrias Matarazzo produziam não apenas a farinha mas as embalagens e os rótulos, e as máquinas eram consertadas em oficinas próprias. 
Os imigrantes foram os precursores no processo de industrialização. Em parte porque, em 1920, quase 2/3 da população paulista (de quase 600 mil pessoas) eram imigrantes. Além disso eram mais preparados, muitos já haviam sido operários e boa parte deles chegava ao Brasil com algum dinheiro. Neste grupo de pioneiros estavam também os irmãos Jafet, atuando no ramo de tecidos, Rodolfo Crespi, os irmãos Puglisi Carbone e a família Klabin, que fundaria a primeira grande indústria de celulose do Brasil. Além de serem imigrantes eles tinham outra coisa em comum: todos começaram trabalhando com importações antes de se aventurarem na produção. 
O símbolo do sucesso dos imigrantes na época foi o edifício Martinelli, construído entre 1922 e 1930 no centro da cidade. O prédio foi, por dez anos, o mais alto de São Paulo, com 25 andares e 100 metros de altura. Construído em concreto armado e sob condições adversas na época – havia um rio sob o prédio – a obra ganhou o status de proeza arquitetônica. Quando o Brasil declarou guerra aos países do Eixo em 1943, os bens de Giuseppe Martinelli foram confiscados e o prédio transformou-se em um cortiço. A recuperação veio nos anos 70, com uma reforma e a ocupação do espaço por escritórios e repartições públicas. 
Santa Efigênia, Brás, Moóca, Sé e Consolação concentravam o maior número de indústrias e o Bom Retiro, na mesma região, tornou-se o refúgio dos operários. Ali foi gerada, em 1917, a primeira grande greve do país. A cidade parou por vários dias, até que os “patrões” decidiram negociar. Os grevistas pediam melhores salários (o que ganhavam era insuficiente para cobrir as necessidades básicas), jornada de oito horas e seis dias por semana, proibição do trabalho para menores de 14 anos, entre outros direitos. Os confrontos com a polícia terminaram com a morte do sapateiro anarquista Antonio Martinez. 
O crescimento industrial foi especialmente rápido no período 1910-20, e um pouco mais lento nos vinte anos seguintes, a fase entre guerras. Os conflitos contribuíram para a diversificação da indústria nacional, uma vez que as grandes fábricas dos Estados Unidos e Europa estavam voltadas para as necessidades geradas pelas guerras. Na década de 50 o país e seu mercado consumidor considerável são descobertos pelas empresas multinacionais, mudando o perfil industrial que vigorara até então. No início do século XXI, 400 delas já tinham filiais em São Paulo. 
O estado de São Paulo – liderado pela capital e região metropolitana - é hoje o maior polo de negócios da América Latina, concentrando 30% de todos os investimentos privados realizados em território nacional. São 155 mil indústrias que representam 34% do PIB industrial brasileiro, segundo dados da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A capital perdeu espaço e hoje seu forte está no setor de serviços mas, ainda assim, responde por 9,4% da produção industrial do país. Uma locomotiva de respeito. 

Fontes: “A industrialização de São Paulo”, Warren Dean; “Raízes da concentração industrial em São Paulo”, Wilson Cano; “A evolução industrial de São Paulo”, Edgard Carone, “Memória da Cidade de São Paulo - Depoimentos de moradores e visitantes”, Ernani Silva Bruno. 


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