sexta-feira, 10 de outubro de 2008

até outro dia que não é o próximo

lentamente construo a visão petrificada da destruição
niilista supremo, edifico as colunas do céu
guardião do belo, projeto sua imagem entre os alaridos da incompreensão
estático perfeita constituição incólume
tal qual o visionário apocalíptico,
que destituído da razão cartesiana,
aglutinou facas e um tomate em um sonho ilegível,
e por isto causador do pânico e do sangue
lavou mãos e consciência mijando nas bocas entreabertas dos humanos
já cegos
perante o sem sentido castelo ótico
os corpos ardiam e o sorriso brilhava nos campos
perversa realizável
lhe criaram



Os coveiros e os anjos
Os corpos se empilham nas máquinas.
Alguns foram tragados pelo amor,
Outros pela morte pura e simples.
E é preciso enterrá-los.

As pás em posição de sentido, sentido ao presente.
As pás nos dão a segurança necessária.
As pás apenas descrevem o já sentido
As pás cortam os tratados de filosofia.

Nenhum pensamento se tornou amigo dos coveiros.
É por isto que os coveiros ignoram a aproximação
daqueles que promovem a certeza da vida.

Aos coveiros s anjos são amargos.
Mas os anjos mostram a direção.
Os anjos acreditam na vida,
Tanto que disseram que ele o amor existe ali,
Não muito distante, em sua esquina.
Você tem fósforos?

Calasans





o político é um ânus no
qual tudo se sentou exceto o humano

E.E.Cummings



O que posso dizer
Jean Pierre Vernant, morreu.
Cacilda Becker, morreu.
Carlos Drummond de Andrade, em 1982, aos 80 anos, silenciou-se.
Renato Russo, mesmo morto poderia nos mandar uma canção.
Devemos visitar o túmulo de Renato Russo, talvez haja uma nova canção escrita na lápide.
O que posso dizer da pureza de Bento Prado Junior, de suas armadilhas, as palavras, a filosofia.
Pessoas que não conheci, que não beijei, que sequer ouvi uma palavra, mas sinto por existirem nesta confortável manhã de abril.


Talvez você não saiba

Para Zenaide Capato, in memorium

Temos uma história
Uma bandeira
Algumas lágrimas
Que funcionam como marcas de uma trajetória, de um tempo.
Algumas janelas de onde respingam os dias e as noites tropicais
Alguma janela que insiste em nos iludir com a luminosidade do sol, com a esperança socialista.
Onde as crianças tocam as sinfonias daquelas músicas que fizeram parte de nossa trilha sonora
É, temos que tomar um café.
Talvez você não queira saber: nada começou.
Nossa história se resume no infinito, na eternidade.
Ainda acho pouco e por isto estou chorando.
Não, não diga nada, combinamos melhor no silêncio.
















profeciao fim do mundo será poesiasó a poesia poderá salvar a humanidade.
Poeta,monte uma pasta com seus poemas.no dia do juízo final quem tiver mais poesias será salvo.

profeciao fim do mundo será poesia

fale com o seu pastor, padre, pai-de-santo, rabino,... amém senhor!
vc viverá a eternidade lendo, em voz alta,
sérgio vaz, drummond, allen guisberg, nereu velecico, roberto piva,
mário quintana, maiakovisk, gullar, murilo mendes, lorca, leminski,...
estamos condenados as palavras

profeciao fim do mundo será poesia


estamos condenados as imagens poéticas
que mexem com seu coração apaixonado
gostaria de salvar muitas almas para a eternidade
leia livros e alcance a verdade

profeciao fim do mundo será poesia

prepare se para a eternidade
o fim do mundo será poesia
o fim do mundo está próximo
assim como está próximo do dia em que
você beijará a mulher mais linda do mundo


Fui batizado com o nome de Adilson Campos Calasans, no ano de 1962, na cidade de São Paulo. Alguns procuram entender a si mesmo através do estudo da psicanálise, outro, da filosofia, me reservou o estudo da História enquanto metáfora socrática para a busca de meu eu mais obscuro. Iniciei meus estudos de História na extinta Faculdade de Moema, que tinha na figura do Padre Alpheu Lopes uma de suas colunas gregas, no conceito de sustentação intelectual, de ideal da construção do conhecimento enquanto forma da superação da miséria humana. Padre Lopes era um humanista apaixonado e dedicado ao projeto iluminista. Continuei os estudos de História na PUC-SP, onde obtive o título de Mestre em 1994, com um trabalho abordando a obra de Plínio Marcos de Barros, poeta em um tempo de trevas. Publiquei recentemente um pequeno livro, edição do autor, com o título de A República dos Marginais. Sou professor no ensino público nas escolas E.E.PROF. José Vieira de Moraes e EMEF. Ulysses da Silveira Guimarães. Sou casado com a Gladis e tenho uma garotinha sapeca e curiosa de nome Ana Gabriela, que hoje me ensina a rever o mundo com um olhar destituído da lógica cartesiana. Aprecio a poesia, a filosofia, a música, a História. Sou palmeirense, fato que me torna herdeiro das tradições daqueles italianinhos que no final do século XIX vieram para o Brasil com sonhos e utopias.








Borges e a morte.


As moedas, a bengala e o chaveiro,
A dócil fechadura e as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, o baralho, o tabuleiro,
Um livro e em suas páginas a rasgada
Violeta, monumento de uma tarde
Inolvidável sem dúvida e olvidada,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais, atlas, taças, cravos,
Nos servem como tácidos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Durarão para lá do nosso esquecimento;
Nunca saberão que partimos, um momento.











O silêncio diante do esquecimento

É você que habita as minhas lembranças
que esvai em meio as brumas da memória.
É você que compartilha os sonhos turvos que transcendem Eros e tânatos
O tempo e o silêncio suavemente murmuram no coração
Como que a dizer: as rosas morreram e a janela se fechou
Gostaria de poder mudar toadas e músicas
que me perseguem em meio ao trânsito de São Paulo, no inverno.
Você anda comigo, sem saber, não tenha medo de me acompanhar.
Amanhã terei que trabalhar cedo, os alunos estarão na sala de aula, não haverá mais poesia, falarei do passado, sendo o presente uma tempestade de sons e imagens que vivem a atormentar as nuvens celestiais dos deuses do esquecimento.








As pedras

Quero passar o filme final



















A poesia e a História
Não há novidade em rever o tempo e a história através da poesia. Walter Benjamim, importante pensador alemão, realizou algumas incursões ao universo da poesia, revelando aspectos interpretativos da história que nos auxilia a refletir o mundo em que vivemos. Entre algumas de suas obras encontramos um trabalho em que analisa o poema A uma passante, na qual tece comentários de uma lucidez que beira a genialidade. Vejamos algumas considerações de um trabalho tão original.
A originalidade do poema A uma passante, de Charles Baudelaire, publicado no livro As Flores do Mal, escrito em meados do século XIX, é o de retratar uma situação típica do homem da cidade: a multidão, onde tudo é transitório, tudo é furtivo. Alguns autores chegam a afirmar que o maior fenômeno do mundo contemporâneo, são as cidades fruto mais acabado da sociedade industrial. Aqui reside a genialidade do poema que iremos reproduzir. Estar andando no meio da multidão e de súbito cruzar com uma desconhecida, onde os dois se vêem, ficam fascinados um pelo outro, porém estão caminhando em sentidos opostos e acabam pó se perder de vista. É um amor não só à primeira vista , como também a última vista. É neste momento que a sensibilidade do poeta torna-se um meio para se compreender um instante vivido pelos homens na construção de sua história.

A uma passante

A rua ensurdecedora urrava ao meu redor
Alta e esbelta, toda de luto, majestosa na dor,
Uma mulher passou a mão vaidosa
Erguendo, balançando a bainha e o festão;

Ágil e nobre, com pernas de estátua.
Eu crispado como um extravagante, bebia,
No seu olho, lívido céu que gera o furacão,
A doçura que fascina e prazer que mata.

Um clarão...E a noite depois! Fugidia beleza,
De olhar que me fez renascer,
Será que só te verei de novo na eternidade?

Tão longe daqui!Tão tarde!Talvez nunca!
Pois ignoro para onde vais e não sabes para onde vou.
Ó tu que eu teria amado, ó tu que sabias disto.

Podemos afirmar, que é no século XIX, e o poema de Charles Baudelaire demonstra isto, que a experiência das cidades passa a ser vivida pelos homens de forma intensa, onde a multidão provoca a sensação de estar em um ambiente de deslumbramento daquilo que está ao seu redor.Tudo pode acontecer. A multidão não apenas caminha, como também se apaixona.


Adilson Campos Calasans, 47 anos, é professor de História na E.E.Prof.º José Vieira de Moraes e na EMEF Ulysses da Silveira Guimarães.

Como você irá me seduzir?

Um sutil chamado?
Um murmúrio quase calado?
Um sussurro imaginado?
Um gemido ao lado?
Um canto versado?
Um olhar tarado?
Um corpo tocado?
Um silêncio olhado?
Um bilhete trocado?
Um beijo forçado?
Como?









Lição de anatomia

O capital é o esperma da burguesia.
Os bancos, o ovário.

Os trabalhadores, o grande ânus masturbador.


Aviso ao público:
Hoje não haverá poesia.



Descartes

Não existe a verdade.
Não existe a palavra.
Eu não existo, insisto.
Somos o fruto da imaginação
de uma criança que agora dorme.

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