sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cooperifa é poesia no ar. Por PAULA FARIAS.

COOPERIFA - Quilombo do século XXI














Na Rua Bartolomeu Gomes, 797 na Chácara Santana Zona Sul de São Paulo, a lua brilhava no céu estrelado, era noite de jogo do campeonato paulista e o povo da periferia mais uma vez preferiu se reunir para fazer arte, recitar poesias, em mais um sarau da COOPERIFA, idealizado pelo poeta Sergio Vaz.
Há nove anos em que todas as quartas feiras ás 21h, no bar do Zé Batidão esses poetas, se reúnem, a televisão é desligada e a alienação é superada. Pelas poesias, que são recitadas pelas mais diversas pessoas: donas de casa, motoboys, ambulantes, estudantes, crianças, desempregados, rappers, homens, mulheres, novos e velhos. Sem distinção, unidos pelo sentimento de se manifestar através da poesia.
A diversidade não está somente nas pessoas que participam do sarau, mas também nos poemas: amor, sexo, exclusão social, injustiças, criticas, saudades da infância e algumas homenagens, cada um se expressa livremente. Na COOPERIFA não há palco, ninguém fica mais alto que outro, é uma forma de igualdade e o silêncio é uma prece na hora do recital, todos atentos a cada palavra pronunciada, a cada gesto. O poeta vai até o microfone e recita não só com a voz, mas com a alma, há toda uma interpretação das palavras, a emoção sempre a flor da pele, causando arrepio a quem assistir e depois a explosão de aplausos é o reconhecimento pelo talento.
A COOPERIFA já se tornou um movimento cultural da periferia, um novo quilombo, um espaço voltado para a comunidade que desperta curiosidade de quem ainda não conhece foi o que aconteceu com a Dida 36, que mora no interior de São Paulo, conheceu o sarau através de uma amiga que já participava: “Fiquei impressionada, toda a comunidade participa, surpreendente ver todas essas pessoas reunidas, em uma quarta feira a noite, fazendo poesia, isso desperta a curiosidade, a cultura periférica está se organizando despertando…”comenta Dida, com uma nítida expressão de encantamento por tudo que esta vivendo esta noite.
As transformações que a COOPERIFA vem fazendo ao longo desses nove anos de existência impressionam, o resgate da auto-estima de tantas pessoas que vivem entre becos e vielas, que encontraram no sarau uma esperança, uma mudança de vida.
Foi justamente o que aconteceu com o Jairo,40 taxista, que participa do projeto há oito anos” fui estimulado a escrever desde que conheci a COOPERIFA, tinha vontade antes mas não me achava capaz, e agora percebi que posso sim , não importar o fato de morar na periferia, e isto me despertou esta vontade de mudar, minha vida se divide entre antes e depois de conhecer a COOPERIFA, atualmente tenho um grupo de Rap Periafricania ,e trabalho como educador social na Fundação Casa, na unidade da Vila Maria,levando arte, poesia , rap e cultura para os menores…relata Jairo.
A COOPERIFA traz a comunidade para o movimento para ouvir uma poesia, assistir o cinema da laje, mas infelizmente algumas pessoas ainda estão presas a alienação, televisão mesmo morando ao lado do projeto. Boa partes das pessoas que conhecem a COOPERIFA acabam se identificando e permanecendo no projeto. No começo eram vinte pessoas, hoje são trezentas. Aqui a arte é falada, sentida. É o palco dos artistas sem palco. Isso transformou minha vida… Conclui Jairo, com um brilho no olhar de quem realmente sentiu a mudança através da cultura periférica.
A COOPERIFA vem mostrando ao longo dos anos, que militar é uma das principais formas para transformar a realidade da periferia.
A periferia não pode ficar esperando o poder publico fazer algo, o conhecimento, a informação, são elementos fundamentais nas mudanças, e já que isso muitas vezes é negado para as comunidades carentes, então somente criando movimentos alternativos é q as transformações almejadas serão alcançadas.
A COOPERIFA cria novos eventos a cada ano, como o que acontece no Dia Internacional da Mulher, é uma manifestação batizada de Ajoelhaço, os homens se ajoelham e pedem perdão para as mulheres pelas faltas cometidas ao longo da história. Em 2007 criaram o Poesia No Ar, foram trezentas bexigas com poesias dentro que foram lançadas as 23h no céu de São Paulo, uma conseqüência marcante foi a visita de uma moradora do bairro de Pinheiros que recebeu uma bexiga e foi visitar a COOPERIFA.
COOPERIFA é um movimento Antropofágico. Baseado no importante evento artístico de 1922 no Brasil .Criou-se então a Semana de Arte da Periferia ,contou com a participação de artistas de variados segmentos e foi de visitada por pessoas de varias regiões de São Paulo.
Esta semana marcou a vida de muitas pessoas que nunca tinham sequer assistido uma peça de teatro, ou qualquer outro evento artístico.
A periferia esta aprendendo a produzir seu próprio conhecimento, talentos antes escondidos estão florescendo, no campo da arte de escrever
COOPERIFA é o Quilombo Vivo, é o espaço acolhedor, transformando a concepção das pessoas, e mostrando o quanto elas são capazes de produzir arte independentemente do lugar onde elas vivem. Fugir da periferia não é a solução transformá-la em um lugar melhor para se viver, é o objetivo deste movimento social periférico.
MATÉRIA, REPÓRTER DO SITE RAP NACIONAL.
ESTUDANTE DE JORNALISMNO: PAULA FARIAS




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